sábado, 21 de março de 2015

O AMOR SEGUNDO RABINO YOUSSEF

Todos sabiam que o Mestre discursava sobre tudo. Desde os assuntos mais banais aos mais profundos e metafísicos. De sua vida particular ninguém conhecia exclusivamente nada. Um silêncio irremovível cobria sua existência. Nunca em momento algum, mesmo naqueles de festas familiares ou entre amigos, ele comentou alguma coisa ou fato íntimo de si mesmo. Mas sempre existe aquela pessoa com suas perguntinhas indiretas e inconvenientes. São os chamados investigadores de trincheiras. Sem menos esperar, eles emergem a superfície como peixes famintos. Mas é preciso se cuidar, pois peixes famintos podem encontrar também na linha horizontal, vorazes gaivotas esfomeadas. Rabino Youssef sempre foi muito educado. Dizem que ele contava até trinta e três antes de dar uma resposta a alguma pergunta incômoda. Somando a esta atitude, sua inteligência, sabedoria e conhecimento, certamente que a resposta deveria ser uma lição fulminante. Pois foi justamente isto que aconteceu. Comemorava uma Santa Páscoa com sua comunidade, quando alguém lhe perguntou: “Rabino, quando foi que o senhor teve certeza absoluta que amava profundamente à sua esposa?” Durante quase um minuto, o Mestre com seus olhos cor de mel, olhou bem no fundo dos olhos do curioso e respondeu: “No dia em que eu não possuía mais nada para dar a ela!” “Entendi, Rabino! O senhor fingiu-se de pobre, para experimentar se ela gostava mesmo do senhor!” “Não, não foi fingimento! Eu já não tinha mais nada para dar a ela! Eu havia lhe dado tudo o que tinha, mas não pude lhe dar tudo!” “Como o senhor deu tudo e não pode dar tudo? Que coisa estranha é esta?” “Filho, eu doei tudo para mim esposa. Dei meus bens, meu tempo, uma família, amor, dedicação, admiração, respeito, paciência, veneração e tudo que é de qualidade humana! Mas foi ela quem me ofereceu muito mais. Através dela conheci o amor. Só isto valeria por tudo que eu dei a ela. Por ela aprendi a ser humilde. Por ela aprendi a ser paciente. Por ela aprendi a ser dedicado e humano. Com ela aprendi a grandeza de banhar-me ao sol de manhã. Com ela aprendi a maciez das flores. Com ela aprendi que há lugares lindos e maravilhosos para visitar. Com ela aprendi que uma casa fica mais bela apenas com um toque de ternura. Dela eu recebi tudo!”

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