domingo, 14 de abril de 2013

UM ENSINAMENTO PARA TODA A VIDA

O Rabino Youssef estava demasiadamente preocupado naquela tarde de outono. Com os olhos fixos na janela, mergulhava em profundos pensamentos. Sempre quando ele se preocupava com alguma coisa demonstrava este comportamento. Parava, sossegava todos os movimentos como se fosse uma estátua e olhava para um ponto qualquer sem movimentar os olhos. Mas naquele dia, seu comportamento incomodou a sua própria secretária. Miriam chegou a pensar em enfarte, AVC ou qualquer outro sintoma, fosse lá uma paralisia total. Passou várias vezes em sua frente para ver se ele voltava a si. Chegou ao limite, chamado ponto final. “Rabino, o senhor está passando mal?” “Não, minha filha. Não só eu, mas todos nós estamos passando mal!” “Nós? Eu estou muito bem. Como posso estar passando mal?” “Está bem? Então não está no mesmo mundo onde estou! Olhe como as coisas vão mal. O mundo precisa demais de nós. Não podemos deixar para depois. O homem se tornou altamente individualista. Cada indivíduo só pensa em si mesmo hoje em dia. Tudo o que faz é para si mesmo. Não importa mais ninguém. Só importa consigo mesmo. Não pensa mais no vizinho, no próximo. Aliás, não está preocupado nem mesmo com a sua própria família. Numa época em que tanto se fala de globalização, intercomunicação, interdisciplinaridade, transculturalidade, etc. o que vemos mesmo na prática, em todos os setores da sociedade humana é a prepotência do individualismo. Procura somente prazer e mais prazer, riqueza e mais riqueza. É o glamour do materialismo. Mal tem um celular, quer adquirir outro. Um bicho medonho chamado mercado transformou-o em consumidor. Agora, imagine, predador e consumidor. Nada o satisfaz. Compra uma casa. Quer outra. Compra um carro. Quer outro. Inventaram a tal de marca. Roupas e utensílios somente de marca. Hoje o que mais tem é a propaganda religiosa, mas espiritualidade não há nenhuma no ser humano. Por outro lado, o racionalismo, o cientificismo, spenciarismo, darwinismo e o avanço das ciências separaram por completo o homem do resto do mundo. É como se existisse o “eu” e a “coisa”. Em lugar de se integrar ao planeta, ficou o “coisificar”. Desta forma, as pessoas e todas as outras coisas do mundo, valem pelo lucro e vantagem que trouxerem a este ser humano. Ainda tem outra coisa. Não há mais arte. No lugar dela ficou o entretenimento. Os clássicos não existem mais. A literatura, o cinema, a dança, a música, a pintura e toda a arte em geral estão num processo de decadência fatal. Imagine só: um indivíduo pensando somente nele, somente no prazer e na matéria e somente em tirar vantagens de todos e de tudo. Um ser que não tem mais olhos, ouvidos, tato, gustação, olfato e sensibilidade alguma dentro dele! Não é capaz de pressentir o belo, divino e maravilhoso em torno de si! Onde vamos parar? Agora observe como funciona toda a natureza. Todos os átomos se unem para formar células. Todas as células se unem para formar tecidos. Todos os tecidos se unem para dar formas e conteúdos a todas as coisas. Sejam elas do reino mineral, vegetal, animal e humano. Na natureza o que percebemos é doação e integração. Uma floresta, um rio, uma campina, uma montanha, uma pedra, uma árvore, um animal, um corpo humano, nosso sistema solar, as multidões de galáxias... Tudo no universo se doa em cooperação. Miriam, precisamos trabalhar mais! Deixemos de lado a ciência e vamos falar mesmo da própria religião. É o que mais a gente vê hoje na mídia. O líder religioso está como disse agora a pouco. Só pensa em si mesmo. Quer comprar tudo para si. Quer usar todos e tudo para realizar seus próprios desejos e perdeu por completo toda a sensibilidade com o que há de mais puro e divino na natureza e nos seres humanos! Precisamos de nos esforçar mais, Miriam. Necessitamos de ensinar a este homem que a casa do Pai está dentro dele mesmo. Dentro do seu coração, onde é o templo do amor. Se cada homem pudesse parar agora e olhar ouvindo cada batida do seu coração dizer: amor...amor...amor...amor...amor.. Talvez assim pudéssemos iniciar uma nova sociedade sobre os escombros desta. Uma nova sociedade onde o amor e a solidariedade fossem os sustentáculos de toda a sua base! Miriam, vamos continuar a trabalhar. Pelo menos, temos a certeza absoluta de que estamos no caminho certo!”