sábado, 26 de outubro de 2013

RABINO YOUSSEF FALA COM TERNURA SOBRE O AMOR

Todos sabiam que o Mestre discursava sobre tudo. Desde os assuntos mais banais aos mais profundos e metafísicos. De sua vida particular ninguém conhecia exclusivamente nada. Um silêncio irremovível cobria sua existência. Nunca em momento algum, mesmo naqueles de festas familiares ou entre amigos, ele comentou alguma coisa ou fato íntimo de si mesmo. Mas sempre existe aquela pessoa com suas perguntinhas indiretas e inconvenientes. São os chamados investigadores de trincheiras. Sem menos esperar, eles emergem a superfície como peixes famintos. Mas é preciso se cuidar, pois peixes famintos podem encontrar também na linha horizontal, vorazes gaivotas esfomeadas. Rabino Youssef sempre foi muito educado. Dizem que ele contava até trinta e três antes de dar uma resposta a alguma pergunta incômoda. Somando a esta atitude, sua inteligência, sabedoria e conhecimento, certamente que a resposta deveria ser uma lição fulminante. Pois foi justamente isto que aconteceu. Comemorava uma Santa Páscoa com sua comunidade, quando alguém lhe perguntou: “Rabino, quando foi que o senhor teve certeza absoluta que amava profundamente à sua esposa?” Durante quase um minuto, o Mestre com seus olhos cor de mel, olhou bem no fundo dos olhos do curioso e respondeu: “No dia em que eu não possuía mais nada para dar a ela!” “Entendi, Rabino! O senhor fingiu-se de pobre, para experimentar se ela gostava mesmo do senhor!” “Não, não foi fingimento! Eu já não tinha mais nada para dar a ela! Eu havia lhe dado tudo o que tinha, mas não pude lhe dar tudo!” “Como o senhor deu tudo e não pode dar tudo? Que coisa estranha é esta?” “Filho, eu doei tudo para mim esposa. Dei meus bens, meu tempo, uma família, amor, dedicação, admiração, respeito, paciência, veneração e tudo que é de qualidade humana! Mas foi ela quem me ofereceu muito mais. Através dela conheci o amor. Só isto valeria por tudo que eu dei a ela. Por ela aprendi a ser humilde. Por ela aprendi a ser paciente. Por ela aprendi a ser dedicado e humano. Com ela aprendi a grandeza de banhar-me ao sol de manhã. Com ela aprendi a maciez das flores. Com ela aprendi que há lugares lindos e maravilhosos para visitar. Com ela aprendi que uma casa fica mais bela apenas com um toque de ternura. Dela eu recebi tudo!”

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

É possivel ir além do perdão?

O Rabino Youssef um dia recebeu um telefonema muito peculiar e interessantíssimo. Antes de tratarmos deste diálogo vamos relatar um fato acontecido umas semanas antes deste contato telefônico. Este Rabino tem uma forma de falar muito simples. Inclusive ele costuma afirmar que existem várias linguagens. Tem uma que é materna, pois são aqueles primeiros sonidos vindos de nossa mãe a nos ninar em seus braços e toda a comunicação que ela foi construindo com a gente à medida que crescemos. Outra forma de linguagem é a de nossa aldeia e dentro dela a de nosso costume familiar. Existe outra que é nacional. Com os tempos construímos nossa própria linguagem. Dentre todas elas, o Rabino quando conversava com as pessoas, falava da forma mais simples possível. Porém, quando escrevia, era um príncipe no capricho com a mensagem e o texto. Também quando falava em público encantava a plateia. Um dia conversando com um grupo de pessoas, estando bem à vontade, um senhor passou perto do Rabino e corrigiu-o dizendo que ele deveria falar de outra forma. O Rabino respondeu-lhe explicando que na forma de comunicar, ele procurava ser o mais simples possível. Seu cuidado textual se restringia a quando falava em público ou redigia um texto. O que não acontecia com o seu crítico. O senhor como resposta falou que o Rabino não passava de um tagarela de esquina. O Rabino apenas olhou para o mesmo e abaixou sua cabeça, pedindo a Ha Shem que acalmasse a fúria daquele homem. Passaram-se uns dias e seu telefone tocou. Atendeu. Era o homem que o insultou. Este lhe pediu desculpas. O Rabino perguntou-lhe: “O senhor lembrou-se hoje dos seus pais?” “Claro Rabino, eu penso neles de vez em quando!” “E dos seus avós, o senhor lembrou-se deles nesta semana?” “Não, Rabino, eu só conheci minha avó materna e raras vezes me lembro dela?” “E dos seus bisavós e tataravós?” “Não, Rabino, eu nem sei o nome deles!” “Mas eles existiram, verdade?” “Sim, Rabino, é óbvio!” “E não sabe nem quem foram eles”? Foram seres humanos como todos nós. Agora são cinza! Meu irmão eu o perdoo de todo o meu coração e que você me perdoe se acaso cometi alguma falta contra você. Somos todos humanos, falíveis e passageiros. Somos pó, na condição corporal, e como pó voltaremos ao nada! Não existe condição alguma de guardar raiva de alguém. Um dia ninguém se lembrará de que existimos!” “Rabino, muito obrigado! O senhor me libertou de uma dor de consciência!” “Filho, existe outra coisa a pensar. Saia deste foco. Esqueça esta cena. Não fique preso a este acontecimento. Lembre-se de tudo que o senhor já viveu. Recorde as coisas boas que fez. Não fique remoendo estes fatos. A sua vida não se restringe somente a isto. Agora você tem o perdão e o caminho da liberação!”.